quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Atualizado às: 10 de julho, 2007 - 11h17 GMT (08h17 Brasília)

 
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Vaticano define Igreja Católica como 'única de Cristo'
 

 
 
Igreja católica em Pequim
Bento 16 tem feito concessões a tradicionalistas da Igreja
O Vaticano publicou nesta terça-feira documento afirmando que a Igreja Católica é, sempre foi e será a única igreja de Cristo.

Com o título Repostas a questões relativas a alguns aspectos da doutrina sobre a Igreja, o texto da Santa Sé procura esclarecer o que considera como “interpretações desviantes e em descontinuidade com a doutrina católica tradicional sobre a natureza da igreja”, que ocorreram depois da publicação do documento Iumem Gentium ("A luz das nações"), do Concílio Vaticano 2º (1962-1965), dizendo que a única Igreja de Cristo "subsiste" na Igreja Católica.

“Cristo constituiu sobre a terra uma única Igreja e instituiu-a como grupo visível e comunidade espiritual, que desde a sua origem e no curso da história sempre existe e existirá”, diz o texto. “Esta Igreja, como sociedade constituída e organizada neste mundo, subsiste na Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele.”

A nova publicação assinada pela Congregação para a Doutrina da Fé, responsável por promover e tutelar a doutrina da fé e a moral no mundo católico, diz que “com a palavra ‘subsistir’ o Concílio queria exprimir a singularidade e não a multiplicabilidade da Igreja de Cristo: a Igreja existe como único sujeito na realidade histórica”.

“Contrariamente a tantas interpretações sem fundamento, não significa que a Igreja Católica abandone a convicção de ser a única verdadeira Igreja de Cristo, mas simplesmente significa uma maior abertura à particular exigência do ecumenismo de reconhecer o caráter e dimensão realmente eclesiais das comunidades cristãs não em plena comunhão com a Igreja Católica”, diz o documento.

Leonardo Boff

O tema já foi desmentido em inúmeras ocasiões pelos papas que comandaram o Vaticano antes de Bento 16. Entre elas, em 1973, com a declaração Mysterium Ecclesiae de Paulo 6º e, em 2000, com a Dominus Iesus, aprovada por João Paulo 2º.

No texto publicado nesta terça-feira pelo Vaticano é lembrada também a notificação de 1985 da Congregação para a Doutrina da Fé sobre os escritos do teólogo Leonardo Boff, segundo o qual a única Igreja de Cristo “pode também subsistir noutras igrejas cristãs”.

Naquela ocasião, a Congregação puniu o brasileiro pelo que considerou um equívoco e disse que o Concílio adotou a palavra subsiste, precisamente para esclarecer que existe uma só “subsistência” da verdadeira Igreja.

Críticas e mal-estar

Outras considerações importantes do documento devem gerar novos protestos das outras igrejas cristãs, como ocorreram anteriormente, principalmente a afirmação de que somente a Igreja Católica dispõe de todos os meios de salvação e de que, fora dela, existem apenas “comunidades eclesiais”.

“Embora estas claras afirmações tenham criado mal-estar nas comunidades interessadas e também no campo católico, não se vê, por outro lado, como se possa atribuir a essas comunidades o título de Igreja, uma vez que não aceitam o conceito teológico de Igreja no sentido católico e faltam-lhes elementos considerados eclesiais pela Igreja Católica”, diz o texto.

Segundo o vaticanista Andrea Tornielli, o objetivo da nova declaração é combater o que o papa Bento 16 considera como ‘relativismo eclesiológico’, segundo o qual todas as igrejas que dizem fazer parte do cristianismo têm o mesmo nível de verdade ou que cada uma delas não têm mais que uma parte desta verdade.

A divulgação do documento ocorre três dias depois de o papa Bento 16 ter assinado decreto que dá mais liberdade para os sacerdotes celebrarem missas em latim, uma concessão aos tradicionalistas.

Em uma carta aos bispos de todo o mundo, no último sábado, o pontífice rejeitou as críticas de que sua atitude poderia dividir os católicos.

No entanto, o documento gerou mal-estar e, segundo especialistas, poderá ameaçar também o diálogo entre cristãos e judeus.

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Protestantes de diversas tendências criticaram o documento do Vaticano publicado na terça-feira que define a Igreja Católica como "a única e verdadeira" igreja universal de Cristo.


Igreja católica em PequimProtestantes de diversas tendências criticaram o documento do Vaticano publicado na terça-feira que define a Igreja Católica como "a única e verdadeira" igreja universal de Cristo.
Líderes na Itália consideram a declaração assinada pela Congregação para a Doutrinda da Fé – entidade do Vaticano responsável por promover e tutelar a doutrina da fé e moral no mundo católico – ofensiva ao afirmar que os protestantes não são "igrejas", mas simples "comunidades eclesiais", por não ter o sacerdócio ministerial e não "conservar integralmente a substância do ministério eucarístico".
"Esta declaração representa um drástico golpe no caminho do diálogo ecumênico", disse à BBC Brasil o pastor Domenico Maselli, presidente da Federação das Igrejas Evangélicas na Itália.
"Nunca o Vaticano foi tão claro como agora, dizendo que a única maneira de encontrar a unidade é entrando na Igreja Católica."
O decano da Igreja Evangélica Luterana Holgel Milkau afirma que o documento oficial da Santa Sé é presunçoso e só traz desilusão.
"Daqui para frente, devemos nos perguntar de que maneira podemos ver a Igreja Católica como um parceiro interessado em seguir com o discurso ecumênico", assinalou.
"O documento demonstra a falta de sensibilidade da Cúria Romana com o diálogo. Mas somos pacientes e prontos para sofrer mais esta desilusão."
Na avaliação do vaticanista Marco Politi, julho será lembrado como o mês que colocou o pontificado de Bento 16 na linha restauradora no que diz respeito às dinâmicas do Concílio Vaticano 2º – reunião de bispos e cardeais realizada entre 1962 e 1965, que adotou mudanças como a realização das missas nos idiomas modernos e afirmou o respeito aos não-católicos.
'Retrocesso'
"Este documento e o da volta da missa em latim representam um retrocesso para os católicos. Mas, acreditamos que não é o momento de abandonar aqueles bispos e padres que acreditaram no Concílio e na possibilidade de caminhar junto com os outros cristãos", afirmou o pastor Maselli, garantindo que continuará participando dos encontros ecumênicos.
"Se nos tornarmos fechados, não podemos ajudar aqueles que ainda permanecem na Igreja Católica e são abertos ao diálogo."
Decepcionado com a declaração do Vaticano, o secretário da Aliança Reformada Mundial, pastor Setri Nyomi, enviou uma carta ao cardeal Walter Kasper, presidente do Pontifício para a Unidade dos Cristãos, pedindo maiores esclarecimentos sobre a seriedade da Igreja Católica diante dos diálogos com as outras igrejas cristãs.
"Estamos desconcertados pela apresentação do documento neste momento histórico para as igrejas cristãs", disse Nyomi, em nome de 200 igrejas protestantes.
"Agradecemos a Deus porque o chamado para fazer parte da Igreja de Jesus Cristo não depende da interpretação do Vaticano, mas é um dom de Deus. Rezamos para que chegue o dia em que a Igreja Católica avance para além das suas pretensões exclusivistas e que possamos levar adiante a causa da unidade cristã."
Junto aos protestantes, as igrejas ortodoxas também se uniram no protesto contra o Vaticano.
Segundo o secretário do Discatério da Igreja Ortodoxa de Moscou, padre Igor Viszhanov, é impossível concordar com uma "posição ultrapassada da Igreja Católica, a mesma que provocou o cisma ortodoxo em 1054".
Em declaração ao jornal italiano La Repubblica, o bispo ortodoxo Abdel Massih Bassit disse que a declaração vaticana não ajuda o diálogo. Ele pediu ao papa Bento 16 que "se levante do coma" em que se encontra.
Para o historiador do cristianismo Alberto Melloni, o documento do Vaticano "é um golpe à credibilidade ecumênica da Igreja Católica". Ele criticou o papa Bento 16.
"Precisamos entender que mensagem ele traz com estes dois documentos. Se a Igreja Católica estava de férias ou se estava ocupada nos últimos 40 anos", disse o historiador à BBC Brasil.
11 de julho, 2007 –

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